14 de mar. de 2008

Avaaz faz campanha por biocombustíveis sustentáveis

Todo dia 820 milhões de pessoas passam fome enquanto os preços dos alimentos aumentam pelo mundo todo – do México ao Marrocos. O que isso tem a ver com os biocombustíveis? A terra que deveria produzir alimentos para seres humanos está sendo substituída para produzir comida para automóveis.1

Os biocombustíveis deveriam ser uma alternativa para o consumo do petróleo, recurso não renovável, poluidor e motivador de conflitos sociais pelo mundo. Porém temos que ter cuidado para que a solução não se torne o problema. Com os fortes incentivos governamentais, o crescimento desenfreado da produção de biocombustíveis está trazendo graves conseqüências sociais e ambientais como o desmatamento, a monocultura, grande emissão de carbono e o aumento do preço dos alimentos.2

Nem todos os biocombustíveis são ruins, a cana de açúcar brasileira por exemplo é mais eficiente que o milho dos EUA. Por isso precisamos de padrões globais para garantir que eles sejam produzidos de uma maneira correta sem comprometer a segurança alimentar da população, sem aumentar a desigualdade social, nem contribuir para o desmatamento.

Com tanta desigualdade no mundo a troca pode ser cruel: o tanque de um veículo grande utilitário consome uma quantidade de milho suficiente para alimentar uma pessoa por um ano. Mas os biocombustíveis não são nem deveriam ser o vilão da história, o problema são as metas astronômicas dos EUA e União Européia3 que não diferencia as práticas boas das ruins. Como resultado a monocultura se alastra pelo Brasil, florestas são desmatadas na Indonésia e as reservas de grãos pelo mundo estão baixando de forma alarmante. Os países ricos colocam sua etiqueta "ecológica" ás custas do prejuízo ambiental e social do cone sul, e as multinacinoais continuam a encher os bolsos.

Precisamos de padrões internacionais de produção de biocombustíveis imediatamente. Esse final de semana nossos representantes estarão na reunião do G20 em Chiba no Japão discutindo a soluções para o aquecimento global e essa é a nossa oportunidade de divulgar essa campanha e fazê-la ouvida pelos nossos governantes.

A conscientização sobre esse problema não vai acabar com a fome do mundo nem parar o aquecimento global, mas é um primeiro passo essencial. Agora é a hora de confrontarmos as soluções falsas de curto prazo e demandar soluções verdadeiras e sustentáveis. Podemos mostrar para nossos governantes que queremos fazer a coisa da forma correta, não da maneira mais fácil. Chegou a hora de colocarmos as pessoas e o planeta acima das políticas e do lucro que direcionam os acordos internacionais e nos fazer ouvir pelos nossos representantes.

Participe da campanha por biocombustíveis sustentáveis, clique no link para enviar uma mensagem para o representante do seu páis, pedindo uma regulamentação global para os biocombustíveis:

http://www.avaaz.org/po/biofuel_standards_now/12.php?cl=61393785

Fonte: www.avaaz.org


Referências:

[1] Agência Brasil. "Relatório da FAO aponta riscos à segurança alimentar com produção de biocombustíveis" http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2007/05/01/materia.2007-05-01.6505917455/view

[2] O Globo Online. "Os biocombustíveis e a segurança alimentar. http://oglobo.globo.com/opiniao/mat/2008/02/16/os_biocombustiveis_a_seguranca_alimentar-425689890.asp

[3] Inter Press Service. "Críticas aos subsídios europeus para biocombustíveis."

4 de mar. de 2008

Violência contra a mulher é vergonha mundial

Viver novas relações de gênero para transformar o mundo

Marcelo Barros *

Quanto mais a humanidade sente a necessidade de um mundo mais justo, mais se dá conta de que enquanto não se instaurar uma relação de igualdade entre homem e mulher, nunca teremos paz e justiça. A ONU adverte que, em nenhum país do mundo, a relação entre homem e mulher é igualitária e sem violência. Existem países como o Kwait nos quais a mulher ainda não tem direito de dirigir carro, nem votar nas eleições. Pior ainda, na China, o governo fecha os olhos para o costume de matar a criança recém-nascida, se esta for menina. Entretanto, mesmo no Ocidente e em partes do mundo nas quais a mulher já goza de direitos civis iguais ao homem, na realidade a violência continua ameaçando-a no próprio lar e na relação com o companheiro. As cifras são misteriosas e secretas, mas calcula-se que, anualmente, 200 milhões de mulheres são vítimas de violência, a maioria delas em sua própria casa. E muitas delas, vítimas de morte.

Há poucos dias, a imprensa internacional descobriu que mulheres asiáticas continuam sendo seqüestradas para ser obrigadas a se prostituir nos centros de lazer e repouso dos soldados norte-americanos no Iraque, no Afeganistão e em outros lugares da Ásia. Para evitar o risco da Aids e de doenças, esta rede de prostituição invade as aldeias e rouba principalmente meninas de 12 a 17 anos.

Em dezembro de 2007, na Arábia Saudita, uma mulher foi seqüestrada por seis homens. Eles a violentaram, a estruparam e a abandonaram para morrer em meio a uma poça de sangue. O marido a descobriu e a resgatou. O casal foi à polícia e abriu um processo contra os seis homens conhecidos e importantes na aldeia. No julgamento, o juiz lavrou uma sentença de censura contra os homens, mas sem ordem de prisão nem qualquer outro castigo. E a mulher foi levada à mesquita e submetida à lei islâmica para as adúlteras. Quarenta golpes no corpo nu. Os jurados e o juiz partiram do princípio de que ela poderia ter provocado e por isso merecia o castigo das mulheres adúlteras (Cf. revista Solidarietà, fev 1008).

Não sei as cifras atuais de quantas vítimas as guerras que ferem o nosso planeta fazem anualmente, mas, sem dúvida, este indicie altíssimo de mulheres violentadas e assassinadas revela uma guerra cotidiana tanto mais perigosa e terrível porque é oculta e disfarçada. É uma tragédia que ocorre tanto em países pobres da África, como nos Estados Unidos e na Europa. Acontece cotidianamente em lares pobres, como nos meios mais ricos onde, de vez em quando, intelectuais e artistas são denunciados de violência contra a companheira. Quem convive com os mais pobres sabe que os movimentos populares organizados insistem em novas relações e, em grande parte, o conseguem, mas nos bairros de periferia do Brasil, as famílias são organizadas por mulheres. Os homens ou somente passam transitoriamente ou na maioria dos casos são mais fonte de problemas como, por exemplo, o alcoolismo, do que uma ajuda à sobrevivência.

A ONU está tão impressionada com a realidade de insegurança das mulheres pobres e o índice altíssimo de violência contra a mulher, em geral, que instituiu o 24 de novembro como "dia internacional contra a violência na relação de gênero". No Brasil e em outros países é mais popular o dia internacional da mulher, celebrado no 08 de março, dia que, segundo a tradição, recorda o martírio de um grupo de mulheres na repressão a uma greve em Chicago, no século XIX.

Dedicar um dia especial à mulher não muda o caráter patriarcal e machista da sociedade. De certo modo, a sociedade sempre permitiu que houvesse um dia das mulheres, para que, no dia seguinte tudo voltasse ao normal. Em regiões do norte da Espanha, no 05 de fevereiro, festa de Santa Águeda, as mulheres tomavam o poder em casa e nas ruas, desfilando com danças e cânticos. Na Grécia, no dia 08 de janeiro, as mulheres acorriam à casa da mais velha parteira, a "babo" e vestidas com as suas mais belas roupas. Embaladas por músicas, confeccionavam um sexo masculino com legumes ou embutidos e, travestidas de homens, iam para as ruas onde perseguiam e maltratavam o sexo oposto. Para terminar, um banquete celebrava as concepções e partos do novo ano. Em outras regiões, as mulheres preparavam alimentos cujos restos eram usados numa grande batalha de comida na Quarta-feira de Cinzas.

Nos últimos tempos, as comemorações do dia internacional da mulher assumiram um aspecto menos folclórico e mais educador da consciência de homens e mulheres. No Brasil, o governo Lula instaurou a Secretaria Especial de Promoção da Mulher, com estatuto de ministério e esta secretaria organizou, após ampla consulta à sociedade civil o Plano Nacional de Promoção da Mulher que precisa ser conhecido e aplicado em todos os rincões do país.

As Igrejas cristãs têm uma dívida moral com a mulher. As mais antigas nem aceitam ainda dar à mulher o pleno acesso aos ministérios eclesiais. A maioria das igrejas evangélicas deram este passo e, hoje, as mulheres podem ser pastoras, mas isso não mudou ainda a estrutura patriarcal dos ministérios, ainda pensados para homens. Os Evangelhos contam que Jesus ressuscitado apareceu em primeiro lugar às mulheres, suas discípulas e fez delas apóstolas dos apóstolos. É um sinal de que a promoção da mulher é um sinal pascal importante. De fato, o mundo precisa desta dimensão feminina que humanizará as relações e transformará a sociedade. Não é por isso um exagero a afirmação do teólogo ortodoxo Paul Evdokimov: "A mulher salvará o mundo".


* Monge beneditino, teólogo e escritor. Tem 30 livros publicados.

Fonte: www.adital.com.br