13 de mai. de 2008

Eliminando a Idéia de Raça

O tema “raça e racismo” continua sendo um dos mais inadequadamente abordados por escolas, universidades, governos, religiões, meios de comunicação e até movimentos sociais, o que, infelizmente, colabora para que o preconceito se perpetue.

Para que possamos mudar este quadro, é importante que procuremos entender e divulgar o fato cientificamente comprovado de que não existem raças humanas, pois ainda continuamos ouvindo frequentemente que existem quatro raças ou que o povo brasileiro é constituído por uma mistura de raças e outros erros deste tipo...

Então, compartilho com vocês (link abaixo) um texto acadêmico, escrito pelo antropólogo e professor da USP Kabengele Munanga, que aborda a questão de forma bastante clara. Alguns pontos:

- Todos os seres humanos formam uma única espécie. Cientificamente falando, não existem raças humanas. O conceito de raça foi forjado por “cientistas” e “religiosos” equivocados ou mal-intencionados e serviu para tentar justificar as relações de dominação entre classes e povos, a fim de legitimar os interesses de empreendimentos imperialistas e escravocratas. Hoje, a palavra raça só é aceitável se usada no sentido cultural.

- O estudo do genoma humano já provou que não existem variações genéticas suficientes para sustentar a idéia de que os indivíduos de distintas cores de pele fariam parte de “raças diferentes”.

- As diferenças de cor de pele que vemos entre as pessoas resultam da exposição dos primeiros humanos às condições climáticas e geográficas das diversas regiões do planeta. Por exemplo: nas regiões onde o sol era mais forte, nossos ancestrais desenvolveram características que lhes permitissem suportá-lo. O mesmo se deu nas regiões frias, onde a pele clara se destinava ao aproveitamento do sol escasso. Depois, com o abrandamento das condições climáticas e a ocorrência dos fluxos migratórios, tudo isso se mesclou e pessoas de cores diferentes passaram a habitar as mesmas regiões.

- O conceito de etnia é usado pela Antropologia para se referir às diferenças culturais entre grupos humanos. Sendo assim, entre pessoas de pele branca existem diferentes etnias, assim como entre pessoas de qualquer outra cor de pele. Então, é errado falar em etnia negra, etnia branca, etc. Na África, por exemplo, existem diversos grupos étnicos (com hábitos e estrutura lingüística próprios), embora sejam todos negros.


É fundamental que tenhamos claros estes conceitos para que, sempre que possível, ajudemos a eliminar esta idéia de raça que já causou e ainda causa tantos malefícios.


Leia o texto:

http://www.acaoeducativa.org.br/downloads/09abordagem.pdf

5 de mai. de 2008

Prato Cheio de Compaixão

Por Cristina Sales*

Faz pouco mais de quinze anos que me tornei completamente vegetariana. Abandonei o consumo de carne vermelha em 1992, após um breve período de abstenção não-intencional. Ao tentar voltar à “alimentação” carnívora, percebi os rapidamente seus malefícios, pois após um mês sem as toxinas da carne, meu corpo, reagiu fortemente contra o retorno aos meus antigos hábitos.


Na ocasião, eu começava a me interessar pela filosofia hindu e a leitura de livros que falavam sobre a importância de abandonar o consumo de carne, aliada à experiência negativa citada anteriormente, surtiu um efeito imediato. Ou seja, informação e experiência mostraram ser a combinação perfeita para gerar mudanças. Era o que faltava para que eu abandonasse também qualquer outro tipo de comida originada da morte de animais.


Há muitos motivos pelos quais eu acredito que uma pessoa deva deixar de comer carne. Poderia falar dos benefícios para o corpo e a mente, que ficam livres das toxinas – como a cadaverina, originada pela degradação das proteínas das carnes; do grave problema ecológico causado pela criação de gado e de outros animais em larga escala etc. Mas, hoje, para mim, o ponto mais importante é o respeito ao ideal da não-violência, que difundido pelo admirável Mahatma Gandhi.


Com a atual capacidade de produção de alimentos vegetais, alcançada graças ao uso de novas tecnologias agrícolas, acredito firmemente que não há nenhuma necessidade de recorrermos à carne, causando sofrimento a outros seres sensíveis para satisfazermos nossa necessidade de alimento. Uma infinidade de frutas, legumes, verduras e grãos cheios de vitaminas e proteínas está à nossa disposição. E, ao contrário dos animais, os vegetais não sofrem nem tentam fugir ao serem capturados.


Mas quando falo em violência, não me refiro só aos animais vitimados. Estamos cometendo outro tipo de violência que nem sempre é percebido. Vivemos pela primeira vez na história um momento em que é totalmente possível acabar com a fome no planeta. Porém, preferimos usar as plantações de soja, milho e outros grãos para alimentar o gado que acabará no prato dos poucos que podem pagar pela carne, que empregar as colheitas para saciar a fome de milhões de pessoas.


É tanto por compaixão para com estas pessoas, quanto para com os milhões de animais que têm seu sangue derramado em nome dos vícios do paladar que acredito que devemos abandonar definitivamente este hábito que nos degrada e desumaniza.


*Comunicadora social e escritora

Este artigo foi escrito originalmente para

o informativo da ONG espanhola Anima Naturalis