5 de mai. de 2008

Prato Cheio de Compaixão

Por Cristina Sales*

Faz pouco mais de quinze anos que me tornei completamente vegetariana. Abandonei o consumo de carne vermelha em 1992, após um breve período de abstenção não-intencional. Ao tentar voltar à “alimentação” carnívora, percebi os rapidamente seus malefícios, pois após um mês sem as toxinas da carne, meu corpo, reagiu fortemente contra o retorno aos meus antigos hábitos.


Na ocasião, eu começava a me interessar pela filosofia hindu e a leitura de livros que falavam sobre a importância de abandonar o consumo de carne, aliada à experiência negativa citada anteriormente, surtiu um efeito imediato. Ou seja, informação e experiência mostraram ser a combinação perfeita para gerar mudanças. Era o que faltava para que eu abandonasse também qualquer outro tipo de comida originada da morte de animais.


Há muitos motivos pelos quais eu acredito que uma pessoa deva deixar de comer carne. Poderia falar dos benefícios para o corpo e a mente, que ficam livres das toxinas – como a cadaverina, originada pela degradação das proteínas das carnes; do grave problema ecológico causado pela criação de gado e de outros animais em larga escala etc. Mas, hoje, para mim, o ponto mais importante é o respeito ao ideal da não-violência, que difundido pelo admirável Mahatma Gandhi.


Com a atual capacidade de produção de alimentos vegetais, alcançada graças ao uso de novas tecnologias agrícolas, acredito firmemente que não há nenhuma necessidade de recorrermos à carne, causando sofrimento a outros seres sensíveis para satisfazermos nossa necessidade de alimento. Uma infinidade de frutas, legumes, verduras e grãos cheios de vitaminas e proteínas está à nossa disposição. E, ao contrário dos animais, os vegetais não sofrem nem tentam fugir ao serem capturados.


Mas quando falo em violência, não me refiro só aos animais vitimados. Estamos cometendo outro tipo de violência que nem sempre é percebido. Vivemos pela primeira vez na história um momento em que é totalmente possível acabar com a fome no planeta. Porém, preferimos usar as plantações de soja, milho e outros grãos para alimentar o gado que acabará no prato dos poucos que podem pagar pela carne, que empregar as colheitas para saciar a fome de milhões de pessoas.


É tanto por compaixão para com estas pessoas, quanto para com os milhões de animais que têm seu sangue derramado em nome dos vícios do paladar que acredito que devemos abandonar definitivamente este hábito que nos degrada e desumaniza.


*Comunicadora social e escritora

Este artigo foi escrito originalmente para

o informativo da ONG espanhola Anima Naturalis

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