18 de jan. de 2008

COMUNICAÇÃO E CULTURA DE PAZ

A maneira como nos expressamos revela nossos valores e crenças mais íntimos, até mesmo em detrimento da postura correta que tentamos demonstrar. Podemos observar que, apesar dos discursos freqüentes que ouvimos e fazemos em favor da paz, nosso acervo lingüístico costuma abrigar expressões que evidenciam a “cultura de guerra” instalada confortavelmente em nossas cabeças.

São freqüentes, na linguagem coloquial, expressões que demonstram nosso valor (consciente ou inconsciente) por ferir, subjugar e eliminar o outro. Para nos referirmos ao desejado sucesso de um empreendimento, usamos: “matar a pau”, “detonar”, “botar para quebrar”, “arrasar”, etc. Se uma pessoa é muito determinada, diz-se que é “guerreira”. Se algo tem grande aceitação ou afluência de pessoas, é comum ouvirmos dizer que “está bombando”. Isso sem mencionar os palavrões, piadas e brincadeiras de mau gosto, sempre carregados de preconceitos de raça, gênero, opção sexual, etc.

Poderíamos listar aqui uma série de exemplos que mostram como a agressividade e a combatividade estão infiltradas em nossos pensamentos, engendrando o que dizemos e fazemos. Porém, o mais importante é percebermos como esta dupla nociva delata nossa adesão aos anti-valores que impedem o desenvolvimento da nossa sociedade.


É evidente que palavras agressivas e desagradáveis geralmente ocasionam uma resposta equivalente das outras pessoas, em uma espécie de “efeito espelho” que acaba por voltar-se contra nós. Mesmo assim, temos grande dificuldade em corrigir nossa fala e a forma de pensar que a origina.

Uma campanha publicitária lançada por diversas organizações da sociedade civil reunidas no grupo Diálogos Contra o Racismo pergunta: “Onde você guarda seu racismo?”. Baseia-se no fato de que o racismo, apesar de tão fortemente negado no Brasil, se faz presente não só em agressões explícitas, mas também em atitudes sutis como comentários, piadas, insinuações, etc.

Tomando o exemplo da campanha citada, deveríamos perguntar-nos onde guardamos nossa agressividade, nosso valor pela competição, nosso apego à guerra.

Um artigo sobre comunicação não poderia deixar de citar a importância da mídia na difusão de uma linguagem pacífica. Infelizmente, com raras e louváveis exceções, o que vemos é a exaltação da violência. Porém, a comunicação é feita por pessoas e se elas não estão comprometidas com a paz em suas próprias vidas, os veículos de comunicação – que seguem as leis do mercado e abastecem os consumidores com o tipo de informação que lhes apraz – obviamente não serão os artífices da mudança. Como sempre, a transformação tem que começar no plano individual, porque é de consciência em consciência que se muda o todo.

Cristina Sales é Mestre em Bens Culturais e Projetos Socias pela FGV. Consultora de comunicação especializada em causas sociais, também á autora de histórias infantis que ressaltam os valores humanos.

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